Março 28, 2024

“A intercooperação deve ter abrangência nacional”

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Engenheiro Agrônomo com experiência no cooperativismo e no agronegócio, Emerson Moura faz parte da diretoria da recém-criada Unium, marca institucional das cooperativas paranaenses Frísia, Capal e Castrolanda. O trio tem se destacado por sua atuação em intercooperação, ganhando fortalecimento de mercado e competitividade na compra de insumos e na venda de produtos dos seus cooperados. Moura, que também é superintendente geral da Frísia, conta nesta entrevista como foi o surgimento da ideia, os desafios e benefícios desse trabalho inovador.

O processo de criação da Unium durou três anos. Como surgiu essa ideia?
A ideia foi motivada por uma necessidade da Frísia, Capal e Castrolanda, que têm mesma origem holandesa e são vizinhas. Ocorreu que duas delas construíram indústrias de processamento de leite, mesmo sendo próximas uma da outra. Assim, se tornariam concorrentes no mesmo mercado. Cooperativas e cooperados sairiam perdendo, principalmente com relação aos preços baixos do leite. A partir disso, as diretorias se reuniram e propuseram a união. O nome surgiu há menos de um ano e é muito mais uma denominação para fins de marketing do que a criação de uma instituição propriamente. O modelo de intercooperação surgiu para que as cooperativas não competissem pelo mesmo mercado.

Quais foram os ganhos para as cooperativas?
Nosso objetivo é agregar valor aos produtos dos cooperados, de forma que sejam revertidos para eles mesmos. O primeiro ganho foi o aumento do preço de venda do leite para os associados. Ou seja, a união nos fortaleceu e valorizou o produto. O outro benefício da Unium é negociar com os grandes compradores. Se estivéssemos separados, iríamos nos mesmos clientes e eles iriam se aproveitar disso em seu favor. Além disso, podemos fazer investimentos de alto nível nos empreendimentos, que são diluídos entre as cooperativas. É possível investir em uma indústria, por exemplo, de processamento de carnes já com alta escala, de forma que as três cooperativas aportem aquele investimento. Existe ainda um ganho real na compra conjunta de matéria-prima para fabricação ou para as indústrias. A diferença de preço chega a ser de 10% a 15% de quando a compra é feita de forma individual.

Cada cooperativa continua com os seus produtos? Existe um produto com a marca Unium?
As três cooperativas têm em comum o leite, carne suína e o moinho de trigo, que fazem parte da Unium nessa intercooperação. Porém, cada uma continua com seus produtos. A tendência é que tudo o que for da porteira para fora seja em intercooperação. As cooperativas vão continuar fazendo a gestão dos seus cooperados separadamente, mas em tudo aquilo que for para o mercado, será feito de forma intercooperativa. A Unium foi criada para ser uma marca forte. Um exemplo é a Unilever, que possui vários produtos de limpeza ou alimentícios. Nós temos a Unium, que vai aparecer por trás dos nossos produtos, com a função de se mostrar para o mercado de forma institucional e protegendo as cooperativas. Isso para que o mercado entenda que na retaguarda dos produtos existem cooperativas importantes, existe o cooperativismo e todas as questões de sustentabilidade que ele envolve.

O que você diria para o segmento do cooperativismo sobre os processos de intercooperação que originaram a Unium?
Temos que nos livrar dos paradigmas do dia a dia das cooperativas e manter a mente aberta sobre o futuro. E estar cientes de que, apesar de ser uma intercooperação, vai haver uma cooperativa com maior participação, porque terá mais condição de investir do que a outra. Apesar disso, as decisões são tomadas em conjunto e são iguais para todas, como em qualquer negócio cooperativo.

Como foi trabalhar uma marca única, originária de três outras com força no mercado do cooperativismo? Como foi a estratégia de divulgação para a sociedade?
Foi uma quebra de paradigmas. A Frísia tem 93 anos, a Castrolanda tem 50 e a Capal, 45. A definição por uma marca única foi em conjunto, mostrando quais seriam os benefícios para todas. Por fim, a Unium se tornou a marca institucional, que vem na parte de trás da embalagem, e o nome dos produtos na frente. A Unium possui um setor de marketing separado, porque apresenta um apelo de varejo muito maior do que as cooperativas que a compõem. Com três organizações por trás, conseguimos que haja um investimento maior nos produtos que chegam ao mercado com mais força e são assimilados mais rapidamente.

Você acredita que a Unium pode ser entendida como uma evolução para o cooperativismo?
Estamos começando e temos desafios, porém, representamos também um avanço. A Unium aproveita processos e pessoas que já trabalham nas cooperativas e, por isso, não precisa criar novas estruturas. Além disso, a decisão é igualitária: são três presidentes ou mais, caso outras cooperativas decidam entrar no negócio. A intercooperação não pode ficar somente nessas três cooperativas, deve ter uma abrangência nacional. O Estado de Minas Gerais é um grande produtor de leite, sabemos as dificuldades que o setor enfrenta, e a intercooperação é uma grande saída para manter o cooperado no campo, dando valor e fortalecendo o produtor.

Outras cooperativas podem participar da Unium? Como elas podem fazer isso?
Elas podem participar nos negócios já existentes na Unium, mas, principalmente, nos novos empreendimentos. Ao trazermos novas cooperativas, conseguiremos nos manter fortes e abriremos mercados em outros Estados. O contato deve ser feito diretamente comigo pelo e-mail emerson.moura@frisia.coop.br.

Fonte: Sistema Ocemg

25/09/2018

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